De estudante para estudante

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O Ensino Médio em pauta

Os desafios de manter os alunos dentro da sala de aula

Por Daiany Santana


Para conter a evasão dentro do Ensino Médio, garantir a permanência dos alunos e tornar a grade curricular mais atrativa, de forma que a aprendizagem faça sentido, o Ministério da Educação (MEC) apresentou um projeto chamado “Ensino Médio Inovador” para o Conselho Nacional de Educação (CNE) em maio de 2009.
Uma das propostas desse projeto é fazer com que os alunos tenham no mínimo 20% de disciplinas optativas dentro do currículo. Como a responsabilidade do Ensino Médio é das redes estaduais de ensino, o MEC só pode agir como incentivador desta mudança. Dessa maneira cada rede irá definir e adaptar, conforme sua necessidade e realidade, o conteúdo a ser aplicado.
O MEC ainda propõe mudar a carga horária dentro das escolas de 2,4 mil para 3 mil horas/ano e dividir as disciplinas, que tradicionalmente eram 12, para eixos mais amplos assim como no Parâmetro Curricular Nacional (PCN) onde as matérias são divididas em três, Linguagens, códigos e suas tecnologias; Ciências da Natureza, Matemática e suas tecnologias e Ciências Humanas e suas tecnologias, como acontece no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
300 mil estudantes pelo Brasil afora estão participando do teste sobre esse “Ensino Médio Inovador”. Como em universidades as escolas abrem espaço para disciplinas optativas e projetos de pesquisa. No Rio Grande do Norte 7.530 estudantes escolhem entre 10 mini-cursos de 20 a 60 horas semestrais.
Garantir a permanência na escola é um dos principais objetivos do Brasil até porque, hoje o País tem a maior taxa de evasão escolar do MERCOSUL (bloco econômico formado pelos países sul-americanos: Argentina; Chile; Paraguai; Uruguai e Venezuela). Segundo a Síntese de Indicadores Sociais (SIS) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 10% dos brasileiros abandonam o Ensino Médio, ou seja, um em cada dez alunos. O dado anterior era pior, 13,2%. Para se ter uma idéia a taxa de evasão escolar mais alta entre esses países depois do Brasil é o da Argentina com 7%. A taxa mais baixa, por sua vez, é o da Venezuela com 1%.
Mesmo com a melhora o Ensino Médio ainda é considerado o gargalo da Educação Brasileira. Em 2009 apenas 40,9% dos jovens economicamente ativos com idade entre 18 e 24 anos completou 11 anos de estudo, informou o IBGE.
No Bloco do MERCOSUL, por exemplo, a taxa de aprovação brasileira é de 77% enquanto o melhor percentual é da Venezuela com 91,9%. Entre as causas que levam a evasão escolar repetência é uma das principais delas. Outra causa é o desinteresse pelo estudo. Uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) comprovou que 40% dos jovens entre 15 e 17 anos deixam a escola porque a considera desinteressante.
O pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Sergei Suarez Dillon Soares mostrou ainda que a repetência, além de trazer consequências como a evasão, também prejudica o rendimento escolar devido ao desgaste emocional, sem contar que o custo financeiro educacional aumenta cerca de 50%, pelo menos.
A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da educação nacional explica que o Ensino Médio tem a finalidade, além de outros pontos, de assegurar ao aluno a formação ética, o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico (Art. 35, seção IV, inciso III).
A reforma curricular veio para sanar problemas na educação, alguns dos quais apresentados aqui, e organizar o Ensino Médio de forma que o objetivo imposto pela LDB seja alcançado. Aprender a conhecer, a fazer, a viver e a ser são as quatro premissas estruturais da educação “apontadas pela (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) UNESCO como eixos estruturais da educação na sociedade contemporânea”, conforme é apresentado no PCN.
Ainda segundo o PCN incorporar as quatro premissas significa torna possível a máxima educacional tornando o ser humano capaz de realizar as atividades nos três domínios da ação humana: a vida em sociedade, a atividade produtiva e a experiência subjetiva.
Levando em conta todos esses aspectos a volta da obrigatoriedade das disciplinas de Filosofia e Sociologia no Ensino Médio significam um grande começo para a mudança no ensino porque, com o ensino dessas duas disciplinas, educação, cidadania e política voltam a caminhar juntas.
Entretanto quem sai ganhando nessa história não é só o ensino ou os alunos do Ensino Médio, mas também os alunos que estão se formando nessas áreas ou os que já se formaram. Para eles a volta da obrigatoriedade das disciplinas abre mais espaço para a docência, isso porque a demanda de aulas irá aumentar significativamente e agora as instituições e o governo terão que abrir mais vagas para distribuição dessas aulas.
O graduando de Filosofia, Donizeti Pugin, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), campus de Maringá, considera que além de a obrigatoriedade ser uma oportunidade para seu futuro profissional a disciplina poderá abrir uma possibilidade de “confrontação com a realidade, produzindo um pensamento reflexivo” nos alunos do Ensino Médio.
Aos olhos do professor de Sociologia, Josimar Priori, a importância da disciplina que leciona, assim como a de Filosofia, não se restringe apenas ao âmbito educacional. Para o Professor a reinserção delas “representa um grande avanço para a formação de sujeitos críticos e atuantes na construção de relações sociais democratizadas”. Além do mais o ensino de Sociologia “é capaz de oferecer referencias e códigos de ética capazes de formar outra ética social”.
O professor garante que “ainda que os efeitos da formação sociológica não sejam notados imediatamente, ao longo da vida ele será sentido pelos jovens”.
São pequenas mudanças que fazem com que haja progresso. Claro que para mudanças como essas acontecerem requer trabalho, esforço e, principalmente, verba. Para isso o Estado do Paraná conta com o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) que estima disponibilizar mais de 42 milhões para a Educação só na cidade de Maringá no ano de 2010.

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